Ao olharmos para o céu, encantarmo-nos com a luz das estrelas e seguir a estrela-guia. É tempo abençoado de dar mais atenção à criança que mora em cada um de nós e às que encontramos em nosso peregrinar, à procura do caminho que nos leva ao Deus-Menino. |
Olhe o dia amanhecendo
e vai sentir que, em quase tudo, há anjos tecendo o alvorecer.
Uns são raios de sol
que vêm descendo, para iluminar o que de bom nós temos, para sonhar e fazer.
Outros são canções suaves
que quando em silêncio, ouvimos, em toda a fonte que jorra,
em cada onda que bate,
em cada sopro de vento,
em cada silvado selvagem,
em cada animal que corre,
em cada flor ao nascer.
Eles são fontes de energia e protecção, presentes em seus planos, desejos, vontades,
em tudo o que o amanhecer inspira.
Só que é preciso fechar os olhos para ver, e ouvir o coração dizendo que somos uma gota de água, nesse mar imenso do universo, com o poder infinito de transformar o que é invisível em cores do arco-íris.
Acredite.
Cada manhã dá luz a um novo dia, mas é cada um de nós, que faz nascer a alegria.
Duas mulheres, uma anciã e uma jovem viúva, estão sentadas num quarto, na penumbra. Seus vestidos de luto fazem com que dos seus rostos e mãos emane uma pálida claridade. As mãos da jovem seguram o retrato do marido que acaba de perder a vida num acidente. Tinham-no enterrado na manhã daquele dia. Por muito tempo as duas mulheres ficaram sentadas, sem palavras e sem lágrimas. Finalmente a anciã tira das mãos da neta o retrato do marido e diz com voz baixa: - Filha, ouve o que quero dizer-te. A jovem não respondeu, mas a anciã começa a falar: - Quando Deus me deu o primeiro filho, aconteceu que ele ficou doente e eu, sentada à noite ao seu lado, com uma mão no berço, adormeci. Tive um sonho muito estranho: detrás de uma cortina longa e densa saiu um anjo escuro e aproximou-se do berço, querendo levar o meu filho. Estendi logo as mãos sobre o berço e gritei: - Não, Morte, não te deixo levar o meu filho! O anjo sorriu e disse: - Não me chamo Morte, chamo-me vida! Precisarei levar o teu filho. Ou preferes trocar? Queres este em lugar do bebé? Erguendo ele a cortina, saiu de lá um menino bonito e forte, de pele clara, olhos azuis e cabelos louros em caracóis. Mas a mim era estranho e gritei: - Não, não o quero! Antes mata-me. Ninguém pode matar - replicou o anjo - Precisas concordar com a troca! Ou preferes este? O menino desapareceu e em seu lugar apareceu um jovem. - Toma este! Vê como ele é belo, seus membros bem proporcionados, corpo e alma com forças vibrantes. - Não, não! - gritei outra vez. E o anjo disse: - Mas este amarás com certeza. - E mostrou-me a imagem de um homem de barba escura, bronzeado pelo sol e pelos ventos. - Não, – voltei a gritar – nunca o amarei! Vou odiá-lo! - Mas este aqui – o anjo continuou a argumentar comigo: era um velho de ombros largos e cabelos grisalhos. - Não, não, não! Jamais trocarei. Vai embora e não toques no meu filhinho! O anjo sorriu outra vez, dizendo: - Certamente irás trocar e serás feliz. Vida e morte são uma coisa só. A morte não existe. Assim dizendo, desapareceu. Acordei trémula, ao lado do berço do meu filho que estava dormindo tranquilamente. Os anos passaram e eu fui trocando: o bebé pelo menino, o menino pelo jovem, o jovem pelo homem e o homem pelo velho. E fui me lembrando de cada um como o tinha visto no sonho. O grisalho, tu o conheces: é meu filho, teu pai! A anciã se calou. E a jovem viúva ergueu o retrato do marido, dizendo: - Mas isto aqui não é troca, é roubo! - Espera – disse a anciã – ainda não terminei. Na noite seguinte o sonho se repetiu. Vi outra vez o menino, o jovem, o homem e o velho e não quis saber nada deles. Mas, depois de me mostrar tudo como na noite anterior, o anjo disse: - Até aqui era só por brincadeira. Agora precisas aceitar uma troca bem mais difícil: aceita este em troca! - Mas não vejo ninguém! - Exclamei. - Não podes vê-lo – replicou o anjo. - Mas também não ouço ninguém. - Pois ele não se deixa ouvir – respondeu o anjo. Eu tacteava ao redor: - Ninguém está aqui! E o anjo disse: - Tampouco podes palpá-lo. - Então zombas de mim? - Não. Tu não me entendes. Vou falar de outra maneira. - Tu me darias os teus olhos em troca do filho? - Leva-os! - Gritei. Logo caiu uma escuridão profunda sobre mim, mas ouvia ainda a respiração tranquila do meu filho, como se fosse uma brisa nocturna deliciosa. - Mas não é ainda suficiente – disse o anjo – Dá-me a tua audição. - Leva-a! - Ordenei, e peguei o corpinho de meu filho com as duas mãos, beijando-o ternamente . - Mas ainda não é suficiente – exigiu o anjo novamente. - Dá-me todos os teus sentidos. - Leva-os todos! - Gritei, e afundei no nada. - Onde está o meu filho? Onde? - Podes crer: ele vive. O que desaparece dos sentidos nem por isso está morto. A morte não existe para aqueles que tem Jesus como seu salvador, Deus criou só a vida. Entendes agora? A estas palavras do anjo acordei. Muitas vezes tenho meditado sobre o que o anjo disse, e paulatinamente comecei a compreender. Muitas vezes somos servos dos nossos sentidos. Mas Deus como Senhor dos mil sentidos consegue transformar o que amamos, mil vezes. São transformações que não nos permitem ver, nem ouvir, nem apalpar. É por isso que falamos da morte. Mas a morte não existe quando se tem Jesus como vida. A vida natural rouba, e dá sem cessar. Se soubermos isto, qualquer sofrimento poderá transformar-se em alegria antecipada. A anciã calou-se. Depois de algum tempo a jovem viúva repousou a cabeça nas mãos da velha, perguntando: - Quem te ensinou tudo isso, amada avó? - A vida, minha filha, a vida... E a anciã acrescentou: ...e a morte! |